DAS EXPERIÊNCIAS DE VIDA NASCEM A OBRA: Minha Percepção sobre ser Artista

Eu me sinto artista? Eu me visto como artista? O que de fato sou?

Tristeza

Ainda me recordo do primeiro lápis que tive. Eu tinha por volta dos dois aninhos de idade. E o primeiro desenho, não foram rabiscos, foram pessoas. O meu lápis, acreditem, ainda lembro dele. A lembrança me parece turva, assim, como são alguns sonhos quando estamos dormindo. Aos poucos fui desenvolvendo o que eu digo, ‘dom’. Gostava de desenhar, o ser humano para mim sempre foi mais atraente, e, vez ou outra, uma paisagem ou qualquer coisa do gênero. Lembro de certa vez, estava em casa, assistindo o Titanic, aquele famoso filme com o Leonardo DiCaprio, fiquei observando aquela também famosa cena que o Jack desenha a Rose; me prendi aos detalhes, como ele, com leveza desenhava cada traço. Sim, eu sei que na vida real a mão não era do Jack ou melhor, dizendo, do Leonardo DiCaprio, mas enfim, isso foi inspirador. Daí ironicamente peguei um CD que havia em casa, do Titanic, cuja capa era o casal protagonista, haha, uma folha de papel, uma borracha e um lápis e… para uma primeira vez tentando desenhar um imagem com realismo, ficou bem legal. Desse modo compreendia que eu era artista… Obviamente que não, haha. Mas sim, entendi, que tinha um talento, que precisava ser desenvolvido.

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Jack desenhando a Rose, em Titanic, de 1997.

Hoje vejo que nunca consegui desenvolver meu dom como deveria. Talvez porque nunca frequentei os grandes salões de artes ou faltou mais esforço etc. Uma vez, quando morava no Rio de Janeiro, um pai falando sobre a filha que era dançarina e estava viajando com um  grupo de dança pelo mundo, que o que ele tinha gastado com ela para tornar-se a profissional que era, dava para comprar um apartamento. Sendo que os imóveis no Rio são muito caros. Fico pensando se tudo tivesse sido muito fácil para mim, eu teria me tornado uma escritora? Acredito que não. Não que só ter dinheiro resolva a situação, claro que não, a disciplina é importante, mas ter dinheiro ameniza o esforço, mas vamos lá… Profundidade é algo que vem de dentro do nosso coração, esse que já foi inflamado pelo medo, pela aflição e por sentir-se só em um mundo que todos os dias fecha as portas na sua cara… e, são todas as humilhações que nos aproximam da essência que nós somos, do nosso próprio eu, que é fundamental para tornar-se um escritor. São Francisco de Assis dizia que isso era necessário para que nos aproximarmos do Senhor, que de tal modo, foi humilhado.

Como sempre gosto de mencionar filmes, lembro de ter assistido um sobre a escritora  britânica Mary Shelley, que ao ir viver junto com o poeta romântico Percy Shelley, que durante a convivência demonstrou-se extremamente boêmio e irresponsável, tendo por isso perdido uma filha, foi o que lhe inspirou os sentimentos de solidão de Frankenstein:  O Moderno Prometeu . E mesmo que a história não do famoso personagem não seja a sua biografia fiel, mostra tão claramente que às vezes a ‘fantasia’ nada mais é que fruto do nosso próprio meio social e de nossos sonhos e sofrimentos que guardamos escondidos dentro de nós, ou daqueles que observamos e convivem conosco. Tal que do mesmo modo ocorrem com as outras artes?

Ah, mais ainda me falta tanto para compreender sobre a vida, que tenho medo do que virá! Porque como pessoa que acredita em um ser Maior, sei que tudo, mesmo as minhas misérias para tornar-se escritora em um país que pouco dar valor as artes, há um plano para tudo isso. Demorei a publicar o meu primeiro livro e, nesse tempo comecei a escrever outros, e, foram os meus fracassos, as minhas dores e cada lágrima onde depois surgiu um sorriso, que me inspiraram a levar aos meus escritos a procura do sentido da vida. Sim, porque confesso, que todos os dias, eu me questiono sobre isso, e às vezes, que tão sufocada, eu começo a chorar. Sou escritora não porque sou mais forte, mas porque sou fraca. E são essas fraquezas que compartilho. No meu primeiro livro, o nome da personagem é Rosa, tenho muito dela, assim, como um pouquinho de outros personagens, pois sou aquela que ensina, mas também sou aquela que aprende.

É claro que se pudesse aprender sem muito sofrer, seria muito melhor; não sou adepta do sofrimento, aliás quem é? No mundo louco em que vivemos, talvez haja aqueles que levantarão a mão. Porém, a humilhação é um livro profundo da alma que se transforma.

Nos desenhos, na aurora da minha infância, certa vez, uma tia-avó, freira, já falecida, disse-me, que por eu ser muito tímida, foi o meio que encontrei para colocar para fora os meus sentimentos, assim, eu batizo de ‘refúgio dos sentimentos’. Então, algumas vezes é assim que nasce a arte no coração de alguns, um refúgio, que aos poucos vai ganhando contornos notórios e um estilo artístico.

Eu, que gosto de escrever sozinha, e, às vezes paro para contemplar o céu que me parece tão infinito… como artista, agora das palavras, sou careta, nunca fui de festas ou de bebedeiras, ou quis viver um relacionamento aberto, contudo, gostaria de ter uma família bonita, de capa de revista, filhos e um cachorro e, sim, sei, haverão problemas. Não sonho com títulos, sonho em ser lembrada pelos meus escritos, e que permaneça mais a minha obra do que a mim mesma, apesar de que a obra, como percebe-se, é o reflexo de si mesmo. Apesar de nem sempre dar o meu testemunho, acredito, que mesmo com todas as minhas fraquezas e imperfeições, essa é a missão que o Senhor me incumbiu.  Deixo esse pensamento:

“Choro as dores e humilhações do meu Senhor. O que mais me faz chorar é que os homens, por quem Ele sofreu tanto, vivem esquecidos dele.”

São Francisco de Assis

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